Oligarcas ruralistas que controlam as forças políticas porque
possuem poder econômico não festejam o 20 de Setembro. Não como os peões.
Celebram a própria fortuna semanas antes na maior feira do agronegócio da América Latina. Movem
números entre os quais contam-se aqueles que madrugam na lida e que no
tabuleiro social são a linha de frente. Enquanto quantidades de peões trabalham, a classe alta enriquece, aumenta a fartura e o povo, que é povo, aplaude alienado.
No dia em que se rememora a revolução de 1835, se reafirma a
versão de heroísmo farrapo. O gaúcho que um dia foi às armas pelos estancieiros
assumiu como sua, muito por falta de alternativa de revolucionar por si mesmo, a luta republicana dos patrões. Sua
festa segue sendo no barro, na fumaça, no pelego. O peão continua no galpão e a costela
saborosa é mais osso que carne que lhe sobra fantasiada de melhor corte. O melhor está na
estância. Lá estão os que mandam, herdeiros dos caudilhos, senhores da terra-pampa.
“O sofisticado arcabouço ideológico através do qual, por
cerca de um século, a oligarquia sulina expressara seu poder continuou intacto
mesmo ao desaparecer a base econômica e política que o sustentava.” (DACANAL,
1985-2004, p. 68).
Desaparecidas as bases agropastoris do Rio Grande do Sul anteriores à
modernização, reinventou-se o pacto social de estratificação por meio da
cultura popular.
Estância e galpão então se fundem para que tudo continue separado.
Crioulos e pangarés.
“Bendito Deus! Pensei eu:
Ando como um esmoleiro,
E me nomeiam herdeiro
De guascas – que é quanto ganho
Quisera saber primeiro
Que fim levou meu rebanho.” (HERNÁNDEZ, Martín Fierro, Canto
XVII, 815).