quarta-feira, 21 de junho de 2017

Mito ou filosofia

A filosofia nasce de uma ruptura com o mito.

Significa dizer: o mito narra origens, entre as quais, a da realidade enquanto fenômeno em sua totalidade. O mundo é criado pela conjunção de forças. Criado também é o homem.

O mito conta a história, com proposição fictícia, do momento máximo de uma gênese.
Mito grego da criação do universo. Fonte: Psicologia Profunda

Tudo o que há surge do ato criador e portanto de uma vontade potente: criar é ação voluntária de um poder divino.

Sustentar a criação é, no mito, continuidade deste processo.

Narram o mito suas testemunhas diretas ou indiretas.

O mito apela, assim, ao argumento de autoridade.

No entanto, a inconsistência da narrativa mítica vem de sua incoerência na descrição dos fatos. O mito é epistemologicamente insuficiente hoje por não limitar-se à lógica.

Já a filosofia surgiu de necessidade humana de oferecer explicações lógicas para os fatos. A realidade é o acontecimento por excelência a ser explicado com coerência, consistência, objetividade e, assim, verdade.

O que se diz, se corresponde ao estado real das coisas, é verdadeiro.

A questão centra-se na linguagem.
Fora dela não há saber. 

A filosofia, então, pretende ser a verdade pela racionalidade, o que torna seu discurso universal. Ela não depende da autoridade da testemunha, mas da validade dos argumentos e da universalidade da razão: todos podem compreender.

Deste modo, a filosofia inaugura o processo epistemológico de conhecimento da totalidade do real que leva à ciência como é conhecida hoje. A regularidade da realidade se explica melhor compreendendo suas causas fáticas, o que se expressa por leis naturais, por exemplo, na ciência, ou pela argumentação irrefutável, enquanto tal, na filosofia.

Porém, o mito, em si, pode ser descartado?

Se o que ele narra é falso do ponto de vista do discurso lógico, é também sempre
irreal quanto ao seu sentido?

Pode ser o mito uma alegoria possível para fatos que a filosofia e a ciência também tratam e investigam, mas com outros métodos e enunciam com linguagem apropriada à racionalidade e com pretensão de verdade?
 
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Por Charles Dalberto

segunda-feira, 19 de junho de 2017

A perda da palavra

Há minutos um automóvel teria avançado sobre um policial na região central de Paris.

No Reino Unido as últimas horas têm sido de tensão devido ao ataque à mesquita Finsbury Park, em Londres. Mais um episódio provável de terror em uma sequência que vem abalando a Europa e fazendo o mundo pensar a crise humanitária e a escalada de violência com raízes culturais, políticas, econômicas e religiosas.

Existe uma crise da palavra e nisto sua perda de poder criador de sentido para a realidade e a vida.

É a era das imagens e dos monólogos egocêntricos.

O terror é midiático: imagem.
O terror é monólogo: eloquência do ato não sujeito à réplica dos argumentos. 

O mundo que desaprendeu a se reconhecer está criando condições insuportáveis para o convívio.

A primeira ministra britânica, Theresa May chamou do ataque de repugnante e disse que já houve tolerância demais à violência extremista. O autor do ataque à mesquita é um radical europeu motivado por ódio aos muçulmanos.

Significa, isto, que haverá uma reação de que tipo ao terror?

São justamente as políticas globais neoliberais o fermento da massa da violência. Esta razão não se cogita alterar. Não com a profundidade necessária para esvaziar a violência de motivos políticos.

A perda da palavra agrava a situação por não oferecer uma possibilidade de tradução para a crise ou uma solução contratada para ela. Perdendo-se a palavra, interrompe-se o diálogo.

Quando todas as falas estão ocas, o resultado é o vazio, o estranhamento e a consequente selvageria.

A palavra civiliza e se o ocidente, com sua modernidade forjada nos ideais da razão iluminista, perder o poder da palavra rumará para o caminho da justiça pela força, rendendo-se à interlocução da guerra, repetindo fases obscuras da história.

Leia aqui: BBC Brasil
Foto: EPA/ Facundo Arrizabalaga

Felicidade tóxica