Significa dizer: o mito narra origens, entre as quais, a da realidade enquanto fenômeno em sua totalidade. O mundo é criado pela conjunção de forças. Criado também é o homem.
O mito conta a história, com proposição fictícia, do momento máximo de uma gênese.
Mito grego da criação do universo. Fonte: Psicologia Profunda |
Tudo o que há surge do ato criador e portanto de uma vontade potente: criar é ação voluntária de um poder divino.
Sustentar a criação é, no mito, continuidade deste processo.
Narram o mito suas testemunhas diretas ou indiretas.
O mito apela, assim, ao argumento de autoridade.
No entanto, a inconsistência da narrativa mítica vem de sua incoerência na descrição dos fatos. O mito é epistemologicamente insuficiente hoje por não limitar-se à lógica.
Já a filosofia surgiu de necessidade humana de oferecer explicações lógicas para os fatos. A realidade é o acontecimento por excelência a ser explicado com coerência, consistência, objetividade e, assim, verdade.
O que se diz, se corresponde ao estado real das coisas, é verdadeiro.
A questão centra-se na linguagem.
Fora dela não há saber.
A filosofia, então, pretende ser a verdade pela racionalidade, o que torna seu discurso universal. Ela não depende da autoridade da testemunha, mas da validade dos argumentos e da universalidade da razão: todos podem compreender.
Deste modo, a filosofia inaugura o processo epistemológico de conhecimento da totalidade do real que leva à ciência como é conhecida hoje. A regularidade da realidade se explica melhor compreendendo suas causas fáticas, o que se expressa por leis naturais, por exemplo, na ciência, ou pela argumentação irrefutável, enquanto tal, na filosofia.
Porém, o mito, em si, pode ser descartado?
Se o que ele narra é falso do ponto de vista do discurso lógico, é também sempre
irreal quanto ao seu sentido?
Pode ser o mito uma alegoria possível para fatos que a filosofia e a ciência também tratam e investigam, mas com outros métodos e enunciam com linguagem apropriada à racionalidade e com pretensão de verdade?
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Por Charles Dalberto