E alguns outros mais.
Ao reagir fisicamente a um grupo de fascistas que hostilizavam enfermeiros que faziam uma manifestação pacífica em Brasília (DF) no 1º de Maio, Sabrina Nery descarregou sentimentos de uma nação cansada de injustiças.
O gesto paradoxal de agir violentamente contra a violência é resultado de uma interlocução que abandou as palavras há muito tempo. Elas viraram um tipo de formalidade da linguagem, pois o conteúdo foi desprezado. A violência vai se tornando o bruto argumento de uma discussão feroz porque é radical.
Antes do soco, a pedrada
A reação de Sabrina faz lembrar um episódio.
Não deu certo.
No meio da multidão, o menino Giovanni Battista Perasso, o Balilla, de apenas 11 anos, sentiu o sangue ferver.
O orgulho ferido e a ordem ultrajante bastaram para Balilla atirar uma pedra contra um dos soldados e gritar "Querem que eu comece?!", em genovês,
"Che l ´ inse?!"
A partir daí foram cinco dias de combates entre a população e o exército austríaco até a fuga do invasor.
Balilla se transformou em um tipo e herói das massas e sua figura é lembrada até no hino italiano:
I bimbi d´Italia
Si chiaman Balilla
As crianças da Itália
Se chamam Balilla
A história real de Perasso é controversa.
Resta o feito e o mito, a simbologia de liberdade que ele evoca.
Uma pedrada mudou a história.
Um soco para a história?
É cedo para dizer se a atitude espontânea de Sabrina Nery é potencialmente um acontecimento histórico.
Hoje é notícia pela dimensão do seu significado e isso é um indicativo de inequívoca importância.
Os acontecimentos recentes levam os analistas a preverem um aumento de tensão entre o grupo extremista de direita pró-bolsonaro e os demais que hoje se encontram juntos na oposição democrata. Basta ver a aproximação de adversários políticos que agora pregam unidade contra o autoritarismo crescente.
Sabrina Nery pode ser um catalisador de ânimos.
Porque a pandemia vai arrefecer.
As ruas vão voltar a ser tomadas por quem hoje está isolado.
Os ressentimentos acumulados e reprimidos misturados à dor inconsolável pelas mortes de Covid-19 tratadas com a sádica indiferença do "e daí?" vão estar cara a cara com a minoria fanática e antidemocrática que hoje se sente empoderada.
Quando isso acontecer, quem dirá o
"querem que eu comece"?
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imagens: Pintrest e Fórum
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