O Estados Unidos declaram reconhecimento a Jerusalém como capital de Israel.
O anúncio, feito nesta quarta-feira (06) em Washington provocou reações em diferentes países, muitos deles, aliados norte-americanos. Nações árabes ou de maioria muçulmana condenaram a ação do presidente Donald Trump considerando a postura uma provocação ou pelo menos uma irresponsabilidade, como disseram líderes europeus.
Até então zona livre, Jerusalém é centro religioso e político para judeus, cristãos e muçulmanos sendo reivindicada em parte como território palestino.
A história de disputas por Jerusalém remonta à antiguidade e este mais recente episódio que a coloca no centro da política internacional levanta uma questão teórica sobre a historiografia: há determinismo teológico na História?
Significa perguntar e pensar aquilo que fundamenta a visão criacionista: o Deus sionista governa a História e a Bíblia, bem como a Torah, tem validade epistemológica no sentido de registar a ação divina sobre os povos, em especial o judeu, e sinalizar o curso histórico até a consumação do plano já descrito como o fim dos tempos
Se for assim, os códigos bíblicos são uma linguagem a ser interpretada e a hermenêutica histórica bíblica sugere fatos que ocorreram ou ainda vão ocorrer.
De que dia fala o profeta Zacarias?
Contudo, quanto são confiáveis as versões já consagradas dos eventos bíblicos diante da realidade do paradigma contemporâneo de que as verdades mais estáveis são ainda provisórias?
A metodologia empregada para fazer História parte de alguns axiomas que podem ser reduzidos a dois eixos: o materialismo e o idealismo.
A História relata a atividade humana sobre o meio e propõe para ela significados;
A História é o cumprimento de um plano ideal dirigido enquanto curso determinado ao homem.
"a Razão governa o mundo, e consequentemente, governou a sua história. Tudo o mais está subordinado, é subserviente a esta Razão universal e material são os meios para a sua realização. Além disso, a Razão tem existência histórica imanente e atinge sua perfeição nessa existência." Hegel, A Razão na História.
A História é a realização da Razão, logos, inteligência total e Espírito que se manifesta como existência material e por meio dela se autorrealiza.
A Razão é livre por ser insubordinada a nada, a não ser a si mesma. Tentar compreendê-la é impossível para a insuficiente razão humana. O plano (télos) é realizar a liberdade a cada etapa histórica - o que é percebido pelo exame histórico do passado - de modo progressivo até a liberdade absoluta.
Que posição ocupa Israel na História se ela for assim?
Criando um paralelo entre a filosofia e a teologia, a Razão assumiria, com a devida licença hermenêutica, a função de Deus, insondável, infinita, livre e determinante dos processos históricos.
Então, Jerusalém e Israel simbolizam e mais, são partes do "material são os meios" para a confirmação da História.
Portanto, todas as motivações políticas envolvidas são componentes concretos aparentes e ativos da vontade abstrata real e essencial ontologicamente manifesta.
"Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu e junto de Deus, adornada como uma esposa ataviada para o seu esposo." Apocalipse, 21:01
A nova Jerusalém simboliza uma nova ordem global, mais livre e positiva à humanidade cumprindo inexoravelmente o determinismo histórico?
Seria possível isto sem profundos traumas?
A História dispensa estes traumas?
Que noção de Deus cabe nesta perspectiva?
Sendo materialista a História, às ciências resta explicar a insistente coincidência, mesmo que aparente, entre os eventos e os textos sagrados.
Hamas convoca nova intifada após anúncio de Trump sobre Jerusalém; Cisjordânia já registra confrontos
Por Charles Dalberto
Imagens: Fayaz Aziz, Mussa Qawama, Mohammed Salem/Reuters; Seminar west
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